quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

magoa

Mágoa ( Davi Salles )


A mágoa marca
Como um sinal na relação
Esfria, adormece o romance, anestesia a paixão
Desfaz todo encanto, o respeito, a admiração
Na cama, na intimidade
O que era inteiro e verdadeiro se fragmenta, vira só metade
O espontâneo se transforma em obrigação

Já não há espaço para saudade
Já não dispara mais seu coração
No dia a dia, só cobrança, o orgulho paira sobre ambiente
Quando a gente não se patrulha
Não mensura o que irá dizer, ofende e ecoa nossa lamúria
Então congela o que era quente

A mágoa expulsa a amizade
Ensandecido, tomado, profere o que por vezes jamais foi verdade
Aos quatro ventos, despeja seu veneno, agride, revida
E a mágoa fica, o magoado não te procura
Já não tem brilho, nem a doçura
Não te miras com antiga ternura
O coração da outra parte, uma vez mais foi abatido
Dividido, que amor é esse, malvado, bandido

Não dá ouvidos para a razão, se entregando á compulsão
E a mágoa tem mais um ponto, mais um troféu
Mais um recruta no seu quartel, maldita, habilidosa, com tanto fel
Pedir perdão, depois do feito, é ter a errônea sensação
Que tudo passou, tudo está bem, nada rompido, nada quebrou
Engano seu, o ressentimento silencioso
Está escondido, se o elo do seu amor se oxidou, já se rompeu, foi partido

A mágoa é um espinho, machuca, espeta
Ferida que vive aberta, não cicatriza, não estanca, não seca
Sangra, e se infecta, lateja pela lembrança
Incomoda, pesa na balança tanta cobrança
Extirpa a graça, o encantamento, fica doente o sentimento
O magoado não pisa forte no seu terreno, já não se entrega
Prefere às vezes ficar sozinho, distante, já não aceita o seu carinho

Cristal quebrado, estilhaçado
Seus pedacinhos foram colados, não tem mais jeito
É coração fragmentado, minha alusão a esse quadro
Comparação ao magoado
Quem não se liberta, do mal dizer, do ferir e do ofender
O abandono não tardarás a conhecer

A mágoa cega, não mais enxerga seu bem querer
Os predicados de quem ama você
Sou magoado, confesso, eis aqui o meu manifesto
Por muitas vezes fui tolerante
Passei por cima, fechei os olhos para o agravante
Virei a esquina, dei meu perdão, sem nada em troca, de coração
Me retirei, bati a porta, rumei por outra direção
Para não dizer o que não sentia e nem ouvir o que
Tanto na alma doía
Dei as costas, me privei de mais uma cena
Ser magoado não vale a pena

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