terça-feira, 15 de agosto de 2023

 Berços de esqueletos

Davi Salles
Ninguém nasce racista, preconceituoso. A sociedade, separatista, ensina a ser snobe, ter alma pobre, elitista, um caráter defeituoso e não importa o que você faça, se tem o vinho mais caro envelhecido em sua taça, aquele que descrimina vai ter o destino igual ao seu serviçal, quando tudo lá no final termina.
Preconceito é como glaucoma, ele não deixa a alma do outro enxergar, se aproximar, brilhar ver sua soma e o que julga não ter valor, nem algo a acrescentar, e não poder o mesmo ambiente que você frequentar, pela sua aparência, a humildade e a localidade da sua residência, saiba que a sua essência poderia na sua história fazer tanta diferença, a sua pele escura, sua linhagem, os simples trajes, talvez por não ter tanta cultura, nada contagioso, a doença é sua, seu preconceituoso!
Índio, negro, branco, amarelo, quando debaixo dos sete palmos no silêncio dos cemitérios, só restam os esqueletos alvos.
Lá, que não é uma nota musical, só jaz dentes, poucos cabelos lisos ou crespos, e fibras das roupas remanescentes de grifes ou as compradas nos balaios de uma promoção.
Nelas, só o sal das lágrimas de alguns, derramadas pela comoção e a derme branca, barreira-símbolo do Apartheid, escureceu apodrecida, o parasita guloso, nada preconceituoso, nem é racista, a comeu e nada mais dita.
No mausoléu, o preconceito será silenciado, mudo democraticamente, igualado ao mesmo nível de altura e profundidade, no mesmo endereço que vive a morte, os decompondo no mesmo espaço, no mesmo berço, só mudam as flores, as dores, coroas bem decoradas, as pedras lapidadas dos jazigos, alguns de mármore outros de granito, o preconceito do rico paga caro para morrer bonito.
É findada toda a diferença social. Morre ali a ilusão de se achar imortal, que ao seu semelhante perante a ti não é igual, que és o tal, intocável, invulnerável, gente fina, superior a quem te servia na beira da piscina, agora não chora, não rir, não implora, não mais discrimina, que dirá pedir perdão. Só sabe que o carro belo não coube em seu caixão.
Quantas paredes todos os dias são erguidas com tijolos de preconceito? Criando muros nas relações? Quantos romances são arrancados, desfeitos, tirados de dentro dos apaixonados? Amor é imortal, multe-cor, é professor, é doutor, gari… O amor é carteiro é astronauta, te leva à lua, tem visão de raio x, te enxerga nú ou nua, independente dos bens que possua.
Não é o seu diploma, a bebida destilada e cara que te faz um ser melhor. Quem prejulga, humilha, acha que está por cima, amanhã vai lá para baixo. E, quando o perfume importado ou aquele barato do mercado já estiver vencido, evaporado, o odor da putrefação da carne o tiver superado, verás a revelação da igualdade, irás feder e virar pó e, perceber qual é o destino real de toda humanidade.

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