terça-feira, 15 de agosto de 2023

 CEGUEIRAS

Há cegueiras convenientes, sínicas e cruéis
Quando fazemos vista grossa
Tapamos o sol com a peneira, em negação
Em por nos dedos alguns anéis
Atentos, à desatenção aos sedentos
De um ato de ternura
Não só de um taco de pão
Olhos de faróis acesos contemplando
Vaga-lumes de almas tão escuras
A cegueira é um Apartheid
Não se cura com antibiótico
Ela está por traz muito mais além
Do nervo ótico do globo ocular
Ela vê sim, é individualista
Mas finge não enxergar
Cegos, afortunados da matéria
De altruísmo, passam miséria
É assim que fabricamos marginais
Depois reclamam quando a chapa esquenta
Se borrando de medo, de olhos vendados
Sem brincadeira de cabra-cega
O bicho solto, o vida louca
Que o seu olhar você nega
Sequestra-lhe, lhe pega
E não ler em Braile, Camões, Manuel Bandeira
Vinícius de Moraes e Ivan Junqueira
Fedro, José de Alencar
Vinícius de Moraes e Olavo Bilac
Não é um poema que irá declamar
Da “Bíblia Hippie” de Jack kerouac
Quem invadiu seu teto
Rapá! É analfabeto
Mal sabe seu nome assinar
Não vai escrever e nem soletrar afeto
A sua cegueira voluntária e indiferente
Contra a classe proletária
Trouxe o bandido armado até os dentes
Violou sua genitália, entorpecido
Enxugou-se com sua felpuda toalha
Com o mesmo dedo que você o apontava
Ele apertou o gatilho
Fazendo você não mais ver
O brilho da luz dos olhos do seu filho
Aquele que ao relento molambento, outrora
Pedia bem mais que uma esmola
Somente um bom dia senhor
Ou bom dia senhora
Seria tão simples perguntar
O que sente, porque chora?
Sem tirar um tostão
Das suas gordas finanças
Da bolsa de grife ou
Um bife da sua sortida sacola
Era só uma criança faminta
Cheia de esperanças
Carente de uma marmita, um PF
Quem sabe simplesmente uma prece
Querendo que o sentisse
Porém nem uma palavra amiga você disse
Inocente sem colo
Com a mente cheia de cola
O coração frio e oco
Seria muito para ele o seu tão pouco
Mas preferiu ir embora
A sua cegueira lhe levou a forca
Caviar, filé mignon, vinho envelhecido
Em carvalho do bom não abrirá mais a sua boca
Você nem se quer imagina
Deus ajoelhado um dia numa esquina
De mendigo disfarçado, cheirando mal
Fez cara de um simples pedinte
Querendo lhe ofertar algo sobrenatural
Uma moeda, uma riqueza espiritual
Que você não sabe qual
Essa sua vaidade absurda
Deixou-lhe para a igualdade cega, muda, surda
Vendo a cor azul
No seu sangue que é vermelho
A humanidade lhe olhava
A sua voz nos seus ouvidos gritava
E dela jamais escutou um só conselho.
A gente se vê ! Davi Salles

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  O CANTADOR DOS COSTUMES Davi Salles Dorival Caymmi, cantor, compositor brasileiro Da voz grave de veludo Cantou o amor, os mistérios do m...